Imaginários – Volume 2

Essa semana eu pude, finalmente, ler o segundo volume da coleção Imaginários, da Editora Draco.

O livro repete a trinca de organizadores do Volume 1: Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stockler. Assim como o primeiro volume, este é um livrinho agradável e de leitura rápida. Os contos foram novamente muito bem selecionados. A impressão que eu tive é que os contos são mais “sombrios” ou talvez mais densos do que os do primeiro volume. Isso não me parece colocar um dos dois volumes como melhor do que o outro, mas acho que foi apenas um tipo de abordagem diferente.

Um detalhe interessante é a mescla entre os estilos português e brasileiro, que sem dúvida enriquecem a obra. São cinco autores brasileiros e quatro portugueses.

Sem mais delongas, vamos a uma passada rápida por cada um deles:

Se Acordar Antes de Morrer (João Barreiros): Uma história incrível sobre zumbis, passada na época de Natal. Um robô acorda depois de longo período de “hibernação” para entregar presentes e fazer propaganda de uma organização comercial, mas encontra um mundo bem diferente do que o que viu durante sua última missão.

Às Vezes Eu Os Vejo (Saint-Clair Stockler): Fantasmas? Extra-terrestres? Uma garota do interior tem sua vida atormentada pela companhia constante de seres estranhos que só ela consegue enxergar. O fato de não conseguirmos identificar exatamente o que são os visitantes, faz com que a história apresente elementos de FC e elementos de sobrenatural. Muito interessante.

Flor Do Trovão (Jorge Candeias): Uma garota que nasce sob condições incomuns pensa estar cumprindo uma antiga profecia e tenta conduzir seu povo por um caminho novo e desconhecido. Um dos melhores contos da coletânea.

O Toque Invisível (Alexandre Heredia): Logo nas primeiras linhas, já é possível entender que o conto trata sobre inteligências artificiais. Confesso que fiquei decepcionado a princípio, mas o autor consegue conduzir bem a história e acaba criando um desfecho bem-humorado e criativo. Um programa de IA rebelde acaba conseguindo escapar dos limites da firma em que foi criado e passa a representar uma ameaça para a sociedade. Senti uma leve semelhança com a personagem Jane, de Orson Scott Card (que aparece a partir de Orador dos Mortos).

O Cheiro do Suor (Eric Novello): Um conto narrado em primeira pessoa com um certo clima noir, daqueles policiais dos anos 1950. A diferença é que o narrador, ao invés do destemido detetive que normalmente aparece nessas histórias, é um lobisomem violento e cruel que acaba sendo contratado para um serviço mercenário. A narrativa prende bastante. Não consegui tirar os olhos do livro enquanto não terminei o conto.  Também um dos melhores.

A Rosa Negra (Sacha Ramos): Passado num futuro próximo, mostra o amor de um jovem português que quer largar sua vida tradicional, cuidando dos negócios familiares para se casar com a namorada brasileira. Usa elementos de FC, fantasia e suspense. Muito interessante.

A Casa de um Homem (Luís Filipe Silva): Mostra um futuro sombrio, no qual partes da Europa estão dominadas por regimes nazistas. Um homem tem sua casa móvel roubada e parte em busca dela, atravessando o Atlântico e encontrando uma Nova York totalmente corrompida e decadente.

Eu te Amo, Papai (Tibor Moricz): Um futuro assustador, no qual as crianças ficam enclausuradas em pequenos casulos enquanto sua energia é “roubada”. Uma das crianças organiza uma rebelião, com o único intento de encontrar seu pai e demonstrar carinho por ele. No mínimo perturbador, é um outro conto imperdível.

Uma Questão de Língua (André Carneiro): Viram quem é o autor? Nem preciso falar mais nada, não? Um homem, obcecado pela vizinha que adora livros, faz de tudo para conquitá-la. A narrativa e a linguagem utilizadas são esplendorosas. O conto todo tem um ritmo alucinante.

Imaginários – Volume 2 é mais um exemplo da boa literatura fantástica que está sendo produzida no Brasil. É um livro que merece ser lido e relido.

11 comentários em “Imaginários – Volume 2

    1. Oi Alexandre, obrigado pela visita! Será que você leu alguma coisa do Orson Scott Card? A Phoebe lembra muito a personagem virtual Jane…

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