Faz tempo que eu já deveria ter comentado esse livro. Li logo no começo do ano, e fui deixando, deixando…
Aliás, já faz tempo que não escrevo aqui. Sendo assim, a fim de tirar o pó do blog, escolhi um post sobre esse ótimo livro de bolso lançado pela Devir Livraria no final de 2010.
Se você ainda não ouviu falar, o Selo Asas do Vento é uma iniciativa muito bacana da Devir. São livros de bolso, com preço bem acessível, e histórias de ótima qualidade (até agora, pelo menos…hehe). O primeiro volume foi o Duplo Fantasia Heroica, que eu comentei aqui, e que traz uma história finalista do Prêmio Nebula (O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara, de Christopher Kastensmidt).
Este Duplo Cyberpunk traz duas histórias: O Consertador de Bibicletas (de Bruce Sterling, vencedor do Prêmio Hugo 1997) e Vale-Tudo (de Roberto de Sousa Causo).
O Consertador de Bicicletas conta a história de Lile Schweik, um rapaz que vive de consertar bicicletas (duhh!!!) numa sociedade anarquista de um futuro próximo. Sua casa e oficina é um tipo de container que fica suspenso no ar para sua própria segurança. A “casa” é baixada durante o dia para o atendimento na oficina. Ao receber um pacote endereçado a seu ex-roommate, Lile acaba se metendo numa confusão que envolve diversos interesses e mostra a política de maneira diferente.
Na introdução do livro, Jeremias Moranu definiu o conto como Pós-Cyberpunk, mencionando inclusive que ele está na antologia Rewired: The Post-Cyberpunk Anthology (1997, organizada por Robert Patrick Kelly e John Kessel). Revelar os argumentos para essa definição talvez seja estragar o “jogo” político que é apresentado no livro. Vale a pena ler para tirar a dúvida. Esse conto marcou época.
Vale-Tudo é uma história muito interessante. Seja pela temática mais atual, ou pela mistura de elementos urbanos, foi uma história que “conversou” mais comigo do que a anterior. A trama se passa numa São Paulo ainda mais caótica do que a atual, superpovoada por refugiados de um acidente nuclear em Angra, cheia de problemas sociais, vivendo uma semi-lei marcial. Jareen Jackson é uma repórter americana que vem ao Brasil entrevistar Andre Mattar, ex-campeão de vale-tudo e agora host de um reality show policial mundialmente famoso. Após um suposto ataque terrorista dirigido a Mattar, Jareen descobre uma trama que pode mudar a ordem mundial. O final do conto tem uma sequência de batalha mental simplesmente fantástica.
O que chama a atenção em Vale-Tudo é a visão do autor, que consegue extrapolar a situação vivida pelo Brasil nos últimos anos para um futuro plausível. Não desejável, mas plausível.
Seja pelo valor da obra de Sterling, num conto revolucionário, ou pela visão trágica do futuro proposto por Causo, Duplo Cyberpunk é um livro que vale a pena.
Muito boa esta resenha.
Valeu, Alvaro!