O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas

Uma das lembranças mais agradáveis que tenho da minha infância é a Sessão Bang-Bang. Alguém sabe do que se trata?

Eu explico: todos os dias, de segunda a sexta, às 8 da noite, a Rede Record exibia um seriado de faroeste. Será que alguém ainda lembra disso? Foi nessa época que fiquei fã de seriados como Laredo, Laramie, Bonanza e James West.

Impulsionado por esses seriados, eu virei meio cowboy-freak durante a infância. Tinha cowboy do playmobil, forte apache, bonequinhos de índios, etc. Cheguei até a montar um forte com palitos de sorvete! Mais tarde, continuei gostando do “tema” e filmes como A Sétima Cavalaria (que é de 1956, mas eu assistia na Sessão da Tarde, nos anos 80), Os Jovens Pistoleiros e Tombstone estão entre os meus favoritos.

Então foi com bastante entusiasmo que eu recebi a notícia do lançamento do novo romance de Tibor Moricz: O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas (a ser lançado agora em março, pela Editora Draco). Fiquei ainda mais animado quando soube que o livro traria elementos de literatura fantástica. Sendo já acostumado com o estilo de escrita do Tibor, eu esperava um livro no mínimo interessante, com personagens marcantes e narrativa bem visual.

O Peregrino é passado no meio oeste americano, em torno de 1870, e narra as aventuras de um homem sem memória que acorda numa caverna, nu e acompanhado somente de seu revólver Colt 45. Sem saber de suas origens, ou o que fazia nessa caverna, o homem sai em busca de respostas. Ele não sabe para onde ir, mas uma certa “correnteza” parece lhe orientar e prover tudo o que ele necessita: roupas,  um cavalo confiável e uma direção a seguir.

Logo, o Peregrino chega a um posto de trocas, onde fica sabendo notícias das redondezas. Três cidades estão mais ou menos próximas. A primeira é Downtown, uma cidade pobre e decadente, uma cidade de velhos. Todas as suas crianças foram sequestradas e levadas para Uptown, mas ninguém sabe delas. A única esperança para Downtown é a chegada de um peregrino. Um homem que virá para salvá-los e devolver-lhes a esperança perdida. Quando o homem sai em direção a Middletown, em busca de ouro e riquezas, ele se vê acompanhado de uma centena de homens, todos habitantes de Downtown, que enxergam nele o verdadeiro Peregrino. Automaticamente, então, a viagem do homem passa a ser, queira ele ou não, uma busca pelas crianças perdidas.

Durante o trajeto, o Peregrino e seu séquito enfrentam uma série de desafios. Há animais simbiontes extremamente ferozes, uma montanha com consciência própria, abutres gigantescos e assustadores, delegados simbiontes montados em cavalos mecânicos, criaturas estranhas e bizarras, e claro, índios selvagens e ferozes que surgem do nada, trazendo a morte em suas montarias.

O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas é um livro extremamente agradável de ser lido. Há um ritmo forte e frenético, tiros, duelos e batalhas. Logo no começo do livro, já é possível notar alguns elementos steampunk dentro do ambiente de “velho oeste”. Mas não se deixe enganar. O autor afirma que o livro não é steampunk, e realmente não é. Há muitos elementos que podem ser classificados como steampunk. Há até um pouco de new weird, especialmente na misteriosa montanha Mogul e nos abutres que sobrevoam constantemente a região.

Em determinado momento do livro, nota-se que a história é muito menos “aventura” e muito mais uma viagem de descoberta. O Peregrino está em busca de respostas. Ele precisa saber quem é, de onde veio. As crianças desaparecidas e a caça às riquezas são apenas panos de fundo para a verdadeira busca que o atormenta. Flashes e lembranças surgem com frequência em sua mente, dando pistas de sua origem e de seus motivos.

A trajetória do Peregrino atravessa Middletown e vai terminar em Uptown, uma cidade tecnologicamente avançada e que controla de forma pesada as cidades inferiores. É lá que o Peregrino vai encontrar seu destino. É lá que ele vai encontrar suas respostas.

O final do livro é simplesmente brilhante. As últimas vinte páginas trazem uma surpresa atrás da outra, mostrando que o autor, ao contrário do personagem principal, sabia muito bem aonde estava indo o tempo todo. A conclusão da história é segura e inteligente, amarrando todas as inúmeras pontas soltas que vão aparecendo durante o livro.

O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas, é um livro surpreendente pela temática. Trazer histórias de faroeste misturadas com literatura fantástica não é nenhuma novidade, mas o que o autor consegue aqui é inovar totalmente. O foco deixa de ser o fantástico e o faroeste, e passa a ser a busca empreendida pelo personagem principal, seus medos e suas angústias. Steampunk, New Weird, Faroeste, ou mesmo Fantasia, são apenas ferramentas usadas pelo autor para contar a história, que é “bela” não por ser bonita, mas por ser bem contada. Muito bem contada, aliás.

Sem dúvida, O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas, deve alcançar destaque entre os lançamentos de 2011. Sem fazer uso de modismos ou ainda temas recorrentes e batidos, Tibor Moricz mostra que literatura fantástica pode ser, sim, literatura de qualidade.

5 comentários em “O Peregrino: Em Busca das Crianças Perdidas

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