Constelações: Introdução 2

Bem, a primeira coisa que é necessário fazer aqui é esclarecer o que essa série de artigos sobre as constelações NÃO é:

  1. não é um curso de astronomia: se você tem interesse num curso formal de astronomia, recomendo o site do Observatório Céu Austral ou o planetário da sua cidade.
  2. não é um trabalho profissional. Tentarei ser o mais preciso possível, mas se alguém encontrar algum erro, eventuais correções e/ou sugestões serão muito benvindas.

Dito isso, vamos ao que interessa.

O que é uma constelação?

Antes de responder a isso, quero definir uma coisa muito importante, a chamada “esfera celeste”. Se imaginarmos que estamos num campo bem aberto, com horizonte livre, sem prédios obstruindo a nossa visão do céu, podemos também imaginar que, girando sobre o nosso próprio corpo, vamos enxergar TODO o horizonte como um círculo enorme que se estende ao nosso redor até onde a vista alcança. Olhando em direção ao céu, vamos observar que as estrelas parecem ter todas a mesma distância, é como se tivesse uma grande esfera escura em volta da Terra e todas as estrelas fossem pontinhos grudados nessa esfera. O nome dado a essa suposta “esfera” é esfera celeste. Nesse modelo, devemos lembrar que só a metade “de cima” da esfera celeste é visível para nós. A outra metade está “tapada” pelo chão abaixo de nós. Conforme a Terra realiza sua rotação, novas porções da esfera celeste aparecem para nós, enquanto outras deixam de ser visíveis. A impressão que temos é que a esfera celeste, o céu, está girando em torno de nós.

Claro que essa esfera não existe, e as estrelas estão a distâncias variadas de nós. Mas para os observadores antigos, que não tinham a noção de profundidade do universo, era bem mais óbvio dividir a esfera celeste em diversas regiões, do mesmo modo que dividimos os continentes em países. Para um observador fixo na Terra, isso é muito bom. Eu posso falar de um objeto que se encontra, por exemplo, na constelação de Orion e qualquer outro observador na Terra vai saber “mais ou menos” onde olhar no céu para encontrar esse objeto. É o mesmo que eu dizer que os Andes ficam na América do Sul: olhando um mapa, qualquer “observador” pode ir até a América do Sul e procurar pelos Andes, mesmo sem saber exatamente onde ficam.

O fato de as estrelas estarem numa mesma constelação NÃO significa que estejam próximas umas das outras. Significa apenas que elas aparecem próximas na esfera celeste, mas não há noção de profundidade, de modo que podemos ter uma estrela a 5 anos-luz daqui que aparece ao lado de outra a 50 mil anos-luz. Olhando daqui parece que estão próximas, mas só porque não podemos determinar suas distâncias apenas com essa observação. Desse modo, se uma pessoa diz que vai viajar até a constelação do Escorpião, ela vai ter um sério problema. Ela pode até partir “na direção” do Escorpião, mas vai chegar exatamente a lugar nenhum, já que não vai saber nunca onde parar.

Os antigos, com uma imaginação absurda, começaram a enxergar figuras mitológicas no céu. Cada amontoado de estrelas era uma determinada figura, que podem ter representações como essa, da constelação de Orion, O Grande Caçador.

Como eles imaginavam isso, eu não faço ideia, mas o fato é que essa noção de “divisão do céu” persiste até hoje. Com o desenvolvimento da astronomia, e a construção de telescópios cada vez mais potentes, não basta fazer uma brincadeira de “ligar os pontos” para formar uma figura. Cada constelação passou então a ser definida como uma região no céu (tal como um país num mapa-mundi) delimitada pelas estrelas que originalmente as constituíam. Podemos, então, dividir o céu e ter uma imagem parecida com a que vemos abaixo.

Esse é o céu em São Paulo, mais ou menos à meia-noite de hoje. Eu não deixei os nomes das constelações visíveis, porque a imagem ia ficar muito poluída, mas as principais estrelas de cada constelação aparecem nessa imagem.

Hoje em dia, a divisão é assim. Sem figuras mitológicas, mas com linhas fazendo a fronteira. Menos romântico, mais científico.

Bom, esse final de semana vou apresentar para vocês a Constelação do Corvo. Ela estará bem alta e fácil de ser localizada no céu. Vamos torcer para o céu ficar limpo!

4 comentários em “Constelações: Introdução 2

  1. Parabéns!! Como é bom conseguir explicar de forma tão simples algo bastante complicado. Adorei sua explicação.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s