Essa resenha está um pouco atrasada. Já faz uns dias que eu li esse livro e queria comentar aqui, mas a correria tem sido tão grande que o tempo foi passando, passando…
Eu fiquei muito interessado quando recebi o release de Time Out (organizado por Ademir Pascale e publicado pela Editora Estronho) há alguns meses. Afinal, todo leitor de FC curte histórias que mexam com viagens no tempo. Mesmo já tendo sido explorado ao extremo, é um tema interessante, que aguça a imaginação do leitor. Além disso, na minha opinião, o trabalho do organizador Ademir Pascale vem melhorando a cada publicação, e a lista de autores convidados era promissora.
Bom, o resultado final do livro é muito bacana. Tanto a qualidade dos contos quanto o trabalho da Editora Estronho (mais uma diagramação primorosa de M. D. Amado) fazem desse livro uma das melhores coletâneas que li nos últimos tempos.
O livro é composto por oito contos e um ensaio sobre viagens no tempo na FC brasileira escrito pelo pesquisador Edgar Smaniotto. De quebra, o prefácio é de Andre Carneiro.
O organizador aparentemente deixou o tema bem aberto aos convidados, já que as tais viagens no tempo são apresentadas de diversas maneiras. Em alguns casos, há máquinas do tempo. Em outros, há experimentos científicos. Há também viagens mentais, sonhos, alucinações. São diversas maneiras que os autores criaram para fazer com que seus personagens viajassem no tempo.
O resultado dessa mistura de “viagens” é um livro muito agradável de ser lido. Uma coletânea bem equilibrada e com boa qualidade nos textos.
Aí vai um resuminho, só pra vocês terem uma ideia do que se trata:
Déjà-vu: O Forte (Roberto de Sousa Causo): mulher com tumor no cérebro decide empreender uma viagem para realizar, antes de morrer, os sonhos que ficaram pendentes. Numa visita a um forte no nordeste brasileiro, passa a sofrer alucinações que a fazem ir ao passado. Conto bem escrito e tocante.
A Velha Canção do Marinheiro do Futuro (Ademir Pascale): marinheiro preso num experimento científico viaja no tempo a cada setenta e duas horas. O conto tem um ritmo ágil, narrado em primeira pessoa como num diário. Parece um conto de FC comum, mas o final é simplesmente lindo. Gostei muito!
A Difícil Arte de Lidar com Patrulheiros do Tempo (Miguel Carqueija): conto muito bem humorado sobre cientista que recebe a visita de um Patrulheiro do Tempo que veio do futuro com a missão de matá-lo. Mas são tantas as regras e protocolos a serem cumpridos, que o conto toma rumos inesperados. Leitura deliciosa.
Pelas Badaladas do Tempo (Luciana Fátima): homem tem recordações vívidas de um passado mal resolvido ao escutar as badaladas do sino de uma igreja. Conto triste mas, ao mesmo tempo, belo.
Modelo do Ano (Álvaro Domingues): divertida história sobre dois amigos de infância que tem o sonho de construir uma máquina do tempo. Apesar de terem se afastado na época da faculdade, voltam a se encontrar depois de algum tempo e descobrem que estão mais preparados do que nunca para realizar seu sonho.
A Máquina da Insanidade (Estevan Lutz): conto muito interessante no qual um cientista de renome relata uma suposta viagem no tempo. Gostei bastante da maneira como o autor narra as experiências e sensações do cientista.
O Último Trem para Plêiades (Allan Pitz): o conto é uma verdadeira “viagem”. Não só no tempo, mas também no espaço e na imaginação. Um homem relata uma viagem esclarecedora, mostrando como o mundo poderia ter sido melhor do que realmente é.
Contra o apagar das Luzes (Mariana Albuquerque): grupo de astronautas observa a partir do espaço a Terra sendo destruída pelos seus próprios habitantes. Voltam no tempo para tentar evitar a catástrofe, mas as coisas acabam saindo do controle. Conto bacana de uma autora que, em geral, nunca decepciona.
Time Out é um bom livro de ficção científica. Há uma leve dose de reflexão em alguns contos, o que é sempre legal. Talvez tenha faltado algum tipo de história que mexesse com paradoxos temporais. É um tema praticamente obrigatório, além de ser inesgotável. Apenas o conto de Mariana Albuquerque, o último da coletânea, cita um possível paradoxo, e ainda assim muito de leve. De qualquer maneira, acredito que os autores souberam explorar bem o tema proposto.
Espero que curtam a leitura!
Excelente resenha, Daniel. Tem razão quanto a ausência de paradoxos, se bem que eles aprecem de forma mais sutil no como do Carqueja e na Máquina da Insanidade.