Hoje, excepcionalmente, o livro que comento aqui não é FC. Fazia um bom tempo que eu não lia nada fora do gênero fantástico, e meio que por acidente, o livro Into the Wild, de Jon Krakauer, veio parar em minhas mãos.
Este livro, apesar de lançado em 1996, ganhou um certo destaque mais recentemente, graças ao filme de 2007 dirigido por Sean Penn, com Emile Hirsch e Vince Vaughn no elenco. Não vi o filme, mas preciso corrigir essa falha urgentemente. O filme tem trilha sonora composta por Eddie Vedder. Só isso já valeria o ingresso. Ou o aluguel do DVD, sei lá.
O livro é resultado da pesquisa feita pelo escritor e jornalista Jon Krakauer sobre a aventura de um jovem americano chamado Chris McCandless (1968-1992).
OK, vocês me perguntam, mas quem é Chris McCandless?
Eu respondo: em 1992, um jovem de classe média alta dos EUA , aos vinte e dois anos e recém-formado na faculdade, abandona a família, a vida confortável e doa para a caridade os vinte e quatro mil dólares que tinha na poupança, a fim de viver o sonho de cruzar o país em direção ao Alasca, onde pretendia passar algum tempo isolado, vivendo apenas do que a natureza podia oferecer. Depois de cruzar o país mais de uma vez, de carro, de carona, de barco e até a pé por mais ou menos um ano e meio, ele chegou ao Alasca. Quatro meses depois, seu corpo foi encontrado já em decomposição num abrigo para caçadores bem no coração do último estado americano.
Calma lá, não estraguei o final do livro. Isso já é mencionado logo no comecinh e não vai ser surpre. O que realmente importa no livro é a aventura em si, os motivos que levaram o rapaz a abandonar tudo em busca de um sonho, as reflexões por trás disso tudo, suas cartas, e até as especulações sobre as causas de sua morte.
Achei o livro simplesmente maravilhoso. O autor, contratado pela revista Outside para escrever um artigo sobre a morte do rapaz, ficou tão apaixonado pela história que resolveu ampliar suas pesquisas, investigando mais a fundo a vida de McCandless, seus diários, fotografias e outras pistas deixadas nos quase dois anos em que esteve viajando. A esse trabalho, foram acrescentados depoimentos das pessoas que conviveram com ele, inclusive do último homem que o viu ainda vivo, prestes a entrar na floresta do Alasca. O autor ainda faz um paralelo com a história de outras pessoas que também “sumiram” da civilização. Nessas comparações, tenta encontrar o que faz algumas pessoas terem esse desejo por uma vida mais simples, sem os laços que normalmente nos unem à civilização.
No caso de Chris McCandless, não havia o desejo de suicídio, nem de se isolar indefinidamente. O que ele queria era simplesmente passar um tempo sozinho, conhecer a natureza, aproveitar o que ela tem a nos oferecer. Depois disso tudo, voltar e contar a todos como a vida pode ser simples e bela. Esses pensamentos aparecem diversas vezes nos diários que ele deixou.
Ele era louco? De pedra.
Mas era gênio também. Afinal, de gênio e louco, todo mundo tem um pouco. O rapaz era inteligente, e fez amigos por onde passou. Aprendeu com pessoas de diferentes culturas e regiões do país. Trabalhou muito e sobreviveu por semanas em condições que não aguentaríamos nem por um dia. Sua viagem foi de aprendizado, em busca de se tornar uma pessoa melhor e mais completa. E é interessante notarmos a evolução que seus registros mostram.
Into the Wild é um livro fácil de ser lido. Há entrevistas, passagens extraídas dos livros preferidos de McCandless, especulações sobre seus ideais e até um pouco de aventura. O autor nos faz admirar a personalidade do rapaz, e nos últimos capítulos, mesmo sabendo o final da história, a gente tem aquela sensação de “caramba, não precisava ser assim” ou “ele quase escapou”.
É totalmente indicado para quem tem um pinguinho daquele sentimento de aventura ou de liberdade. Vale muito a pena!
Em tempo: vi que o livro foi publicado em português pela Companhia das Letras e pode ser facilmente comprado pela internet…;)
Esse filme é muito bom, a historia dele despertou em mim algo em que buscava, mas nao sabia o que era. Hoje entendo um pouco mais o que sinto.
Deve ser algum instinto primitivo que está infiltrado no nosso DNA. Resquícios da nossa origem selvagem. Acho que todo mundo tem um pouco dessa busca.