Constelações: Sagittarius

Bom, depois de mais de dois meses sem chuva e com um céu relativamente aberto, São Paulo está coberta de nuvens. Não fosse o ar seco e cheio de pó que imperava, eu estaria reclamando. Mas como meu nariz parece estar bem mais feliz agora, fico satisfeito com a chuva.

Mas um dia, a chuva vai passar e o céu vai abrir. E se isso não  demorar muito a acontecer, vamos poder apreciar uma das constelações mais interessantes do céu: Sagittarius.

É fato que essa constelação é mais conhecida por fazer parte dos signos do Zodíaco do que pelas suas qualidades astronômicas, mas acreditem em mim: tem muita coisa interessante nela. Pena que tão pouco se vê da cidade grande.

Nesse artigo, vou seguir o caminho inverso ao que normalmente faço. Primeiro vou falar um pouco sobre Sagittarius, para atiçar a curiosidade dos leitores, depois eu ensino como localizar. Quem quiser ir direto até a localização pode ir descendo a tela até começarem as imagens.

O ponto mais importante sobre Sagittarius, a meu ver, é que o centro de nossa Galáxia está dentro dos limites dessa constelação. Por consequência, é uma região LOTADA de estrelas. Sagittarius, assim como Scorpius (que vimos no último post), é uma constelação que fica bem no “coração” da Via Láctea, a faixa esbranquiçada que corta o céu e mostra o braço espiral da Galáxia. É uma região belíssima de se observar a olho nu. Isso se tivermos um céu limpo.

Essa região é tão cheia de estrelas, que há mais estrelas variáveis catalogadas em Sagittarius do que há estrelas visíveis a olho nu no resto do céu. Parece confuso, né? Mas leia de novo que a frase faz sentido, não há como explicar melhor….hehe… (Estrelas variáveis são estrelas cujo brilho é variável, seja por razões intrínsecas ou extrínsecas, simples assim.)

Outro ponto interessante sobre Sagittarius é que ela é a constelação com o maior número de objetos no catálogo de Messier, um total de 15. Objetos do catálogo de Messier são, em geral, nebulosas, aglomerados estelares ou galáxias. São objetos que, observados a olho nu, não se parecem com estrelas, mas com pequenas “fumacinhas” no céu. Em alguns casos, até se parecem com estrelas bem difusas, meio borradas. Um sujeito chamado Charles Messier, lá no século XVIII, resolveu catalogar todos esses objetos, totalizando 110. Na época, ele nem sabia o que eram exatamente, mas simplesmente resolveu catalogar tudo o que estava no céu mas fosse um pouco diferente das estrelas. Esses objetos foram designados pela letra M (de Messier) e um número: M1, M2, M3, etc. Apesar de hoje em dia existirem catálogos muito mais completos, o catálogo de Messier faz parte da “tradição” astronômica, e é amplamente utilizado. Encontrar seus objetos no céu é diversão garantida de astrônomos amadores no mundo inteiro.

Bom, chega de blablablá e agora vamos descobrir como encrontrar Sagittarius? É bem fácil, pelo menos a sua parte principal, mais visível a olho nu. Primeiramente, vamos observar a imagem abaixo. Se você já leu o post anterior sobre Scorpius, vai de cara reconhecer a forma do escorpião. É a partir dele que chegaremos a Sagittarius. As três estrelas mais abaixo na imagem formam a cabeça, depois temos Antares (aquele ponto vermelho grandão) representando o coração, e seguimos subindo até fazer a voltinha da cauda com o ferrãozinho na ponta.

Não consegui ver ainda? E agora?

Acho que ficou mais fácil, né? Agora, olhando a imagem acima, note que há dois “quadriláteros” de estrelas logo acima da cauda do escorpião. Essas estrelas são as mais visíveis de Sagittarius. Só para a gente ter certeza que todo mundo encontrou, aí vai mais uma imagem:


Notem que tem uma estrelinha que ficou meio de fora. Ela também faz parte de Sagittarius e é bem visível, mas não faz parte de quadrilátero nenhum, e não ajuda tanto na identificação da constelação.

O centro da Galáxia fica numa região logo abaixo do quadrilátero mais baixo na imagem, alinhado com o ferrão do escorpião.

Viram? É bem simples mesmo. E essas estrelas são bem visíveis, mesmo com o céu poluído e iluminado da cidade grande.

Atualmente, Sagittarius está visível no começo da noite. Lá pelas 19:00, a imagem que veremos no céu é mais ou menos como a abaixo. Coloquei um detalhe na simulação abaixo, a Lua. Na sexta, dia 21/09, ela estava assim no céu, crescente e próxima do escorpião. Continua por ali no sábado. Domingo já estará em Sagittarius. Mas a configuração das estrelas permanece a mesma, claro.

E por fim, para que a gente possa ver o tanto de estrelas que existe nessa região do céu, coloquei a imagem abaixo, feita pelo meu amigo Tiago Cheregati, lá na Pedra do Baú, em Campos do Jordão – SP. Tem tanta estrela, que fica difícil a gente achar qualquer coisa, mas como eu sou bonzinho, coloquei um sinalzinho vermelho bem lá embaixo na foto, exatamente onde fica o ferrão do escorpião. O desafio aí é encontrar Sagittarius. (Uma notinha especial aqui de agradecimento ao Tiago que cedeu a imagem.)

Bom, acho que por hoje é só. Vamos aproveitar as próximas semanas para observar Sagittarius e Scorpius. São duas constelações típicas dos nossos invernos. Conforme avançamos no tempo em direção ao verão, elas ficam no céu noturno cada vez menos, deixando de ficar visíveis dentro de algumas semanas, por um período de três meses mais ou menos.

O motivo pelo qual deixamos de ver as constelações por determinado período de tempo é assunto para outro post.

(Crédito das imagens: simulações feitas com o uso dos softwares StarCalc e Stellarium. Fotografia mostrando Scorpius e Sagittarius tirada por Tiago Cheregati em julho/2012 em Campos do Jordão – SP.)

2 comentários em “Constelações: Sagittarius

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