Sonata Desacompanhada

(Cuidado! Contém Spoilers!!!)

Se mesmo com o meu aviso aí acima você continuou lendo essa página é porque não se importa com os spoilers, certo? Só pra ter certeza…hehe…

Sonada Desacompanhada (Unaccompanied Sonata) é um conto escrito por Orson Scott Card que saiu na revista Quark, edição 8, em agosto de 2001. A publicação original foi em 1979, na Revista Omni e recebeu indicações para os prêmios Nebula e Hugo.

O conto mostra um futuro aparentemente não muito distante, no qual a sociedade é moldada para que todos sejam felizes. Nesse mundo “perfeito”, as crianças são testadas para que suas aptidões sejam conhecidas, e elas são encaminhadas para desenvolverem talentos que as levem a preencherem totalmente suas aptidões. Acredita-se que somente assim as pessoas serão realmente felizes.

Christian Haroldsen foi testado a partir dos 6 meses e mostrou uma incrível capacidade para a música. Ainda criança, ficou determinado que ele seria um Criador. Ele criaria novas músicas, sem interferência nem influência de  ninguém. Para que isso realmente acontecesse, ele foi isolado numa casa no campo, com acesso a um único instrumento capaz de produzir qualquer som. Lá ele desenvolveu seu talento, observando a natureza e criando música inspirado pelo barulho do vento, pelo canto dos pássaros, etc.

A música que ele produzia era apreciada pelos Ouvintes, que não tinham contato com ele, mas ficavam do lado de fora de sua cabana, apenas ouvindo. Depois de algum tempo, um dos Ouvintes permaneceu escondido na floresta e chamou a atenção de Christian, entregando-lhe um gravador com músicas de Bach. Christian ficou imediatamente apaixonado pela música que tinha descoberto recentemente e involuntariamente contaminou suas obras com ela.

Depois de algum tempo, um Vigilante chegou e explicou a Christian que ele não deveria ter quebrado a lei. Em hipótese alguma ele deveria ter tido contato com outra música que não fosse a sua.

Como punição, ele foi impedido de tocar ou criar. Passou a entregar donuts numa cidade do interior.

Ele conseguiu ficar um bom tempo afastado da música, sua grande paixão, mas certa noite num bar, ele se aproximou de um piano e começou a tocar. E o que ele tocava era tão lindo, que chamou novamente a atenção do Vigilante. Christian foi punido novamente. A punição dessa vez seria para impedir que ele novamente quebrasse a lei. Seus dedos foram amputados, permanecendo apenas a palma da mão.

Ele foi transferido então para trabalhar na construção de estradas. Não tinha como tocar instrumento algum, mas tinha sua voz e passou a usá-la, criando novamente canções que tocavam as pessoas. E suas criações eram tão belas que novamente chamaram a atenção do Vigilante. Sem que houvesse dor, Christian teve sua voz retirada. Não podia tocar ou cantar, e dessa vez certamente a lei não seria quebrada.

Sem outra função, Christian recebeu uma missão especial. Ele foi transferido para se tornar um Vigilante também. E assim, passou o resto dos seus dias fazendo cumprir a lei. Uma lei que fora cirada para fazer com que todos fossem sempre felizes. Uma lei que ele e os demais Vigilantes não conseguiram eles próprios cumprirem.

Esse é um dos contos mais belos que eu li. Não só pela demonstração da importância do artista, da vocação, do talento. Mas também pela persistência e dedicação do protagonista, tanto nos momentos em que ele sofria para se afastar da música quanto nos momentos em que ele tocava. O conto também mostra como a sociedade pode ser hipócrita, fazendo com que as pessoas sejam encorajadas a esconderem seus talentos em troca de uma suposta felicidade.