Insanas… elas matam!

Ontem eu terminei de ler Insanas… Elas Matam, coletânea lançada recentemente pela Editora Estronho, e organizada por M.D.Amado.

Gostei bastante do livro!!! Quase todos os contos são muito bons, o clima “sanguinário” predomina o tempo todo, há uma tensão constante passando de conto para conto, e o medo ataca o leitor em vários momentos.

A proposta, como parece claro pelo título do livro, foi reunir um grupo de autoras (autorAs) numa coletânea com temas violentos, serial killers, assassinatos e coisinhas afins. O resultado deu muito certo, e a Editora Estronho, assim como as autoras estão de parabéns.

Mas vejam bem… devo confessar que, depois de ler esse livro, estou com medo de encontrar algumas dessas autoras. Alguns dos contos são realmente assustadores. Será que essa mulherada tem um dom especial para coisas macabras? Que medo!!!

Além do conteúdo, a editora acertou com a apresentação do livro. Boa encadernação, capa muito legal e várias ilustrações entre um conto e outro, todas inspiradas na imagem que vocês veem ao lado. Muito bom mesmo. A Editora Estronho tem feito um excelente trabalho com suas coletâneas. Eu já tinha visto isso no Volume 1 de Extraneus e vi novamente nesse livro e em Cursed City.

Os melhores contos, na minha opinião são Do Inferno, de Georgette Silen, e Memórias, de Alícia Azevedo. Coincidentemente, os dois trabalhos apresentam Jack, o Estripador, como um dos protagonistas. Os pontos de vista da abordagem são, no entanto, totalmente diferentes. O conto de Georgette Silen narra os assassinatos em primeira pessoa, a autora fazendo as vezes do assassino. Alícia Azevedo coloca sua personagem frente a frente com o assassino. Contos muito bons, de autoras que vem se destacando cada vez mais.

Um conto que, à primeira vista, foge um pouco à temática do livro é, Amor Masoquista, de Laris Neal. O texto é muito bem escrito e choca pelo conteúdo forte. Mostra realmente duas mulheres “insanas”, mas não tem a violência física que se espera. É uma violência bem mais psicológica.

Gostei bastante de Insanas e recomendo a leitura. Desde que o leito tenha um estômago forte…:D

Vamos a uma rápida pincelada em cada um dos contos que aparecem no livro.

O Bem e o Mal  (Sandra Franzoso): uma mulher cansa de ser boazinha e resolve descobrir qual a sensação de ser má. Aos poucos, as maldades vão crescendo em intensidade, até que matar torna-se uma trivialidade. O livro começa com uma história bem escrita, envolvente e arrepiante.

Tinta Vermelho Sangue (Bruna Caroline): uma garota de dez anos, prodígio na escola e excelente escritora, se apaixona pelo vermelho vivo do sangue que escorre de seu nariz. A partir daí, ela descobre que seus trabalhos ficam muito mais belos quando escritos com tinta vermelha. A história em si não chega a empolgar, mas é bem escrita e não compromete o livro.

A Última Oração (Tatiana Ruiz): contrariando um pouco o que era esperado nesse livro, esse não é um conto sobre serial killers. No século XVIII, uma menina consagrada a Deus e criada num convento passa a presenciar fatos assustadores na adolescência, sendo acusada de bruxaria. O conto começa de maneira fraca, mas vai ganhando força e chega a causar mal estar quando os mistérios começam a ser revelados. O clímax é bem escrito e o desfecho é excelente.

Do Inferno (Georgette Silen): este conto não tem como um protagonista uma mulher. O protagonista é ninguém mais ninguém menos que Jack, o Estripador. A autora relata o que se passa na mente do assassino de maneira bizarra. Ela entra em sua loucura e, como se fosse ele, procura trazer sentido e justificativa aos assassinatos. Muito bom!

A Fazenda (Alma Kazur): conta a história de uma família aristocrática que veio fugida da Europa para o sertão de Pernambuco no século XVIII e logo adquiriu uma extensa fazenda, ganhando destaque entre a alta sociedade da região. O estranho comportamento dos europeus, praticantes de magia negra e satanismo, passou desapercebido pela vizinhança, mas não pelos escravos da fazenda. Esse conto, em particular, não me chamou muito a atenção.

Vítimas (Celly Borges): com ritmo frenético, o conto mostra a luta desesperada de um casal de amigos que luta pela sobrevivência numa mansão na qual todos os empregados aparecem mortos sem qualquer explicação.

Anita (Carolina Mancini): uma garota tímida, de comportamento estranho, parece ser possuída pelo mal e trazer morte àqueles que a cercam. Com o passar do tempo, ela vai ganhando consciência do que o “mal” dentro de si precisa. Aprende a controlá-lo e satisfazê-lo ao mesmo tempo. Conto assustador.

O Relógio Perfeito (Natália Couto Azevedo): uma brilhante estudante de medicina tenta ajustar os batimentos do coração a um mecanismo de relógio. Há, no entanto, um preço caro a ser pago. Um conto curto, mas com final surpreendente e chocante.

Bianca (Gisele G. Garcia): um homem feliz e bem sucedido sofre no presente as conseqüências das imprudências que cometeu na juventude. O conto é perturbador e muito bem escrito.

Desagravo (Laila Ribeiro): esse conto parece fazer parte de uma série. Dois clãs inimigos, um de bruxos e um de feiticeiros, habitam dimensões diferentes e estão em guerra constante. Uma garota, descendente dos dois clãs, tem que escolher de qual lado ficará nessa guerra. A história, ainda que um pouco crua, tem potencial e pode gerar boas continuações no mesmo universo.

Pecado Original (Roberta Nunes): gostei bastante desse conto que fala sobre uma sociedade matriarcal onde algumas mulheres são inquisidoras e perseguem os homens, sempre acusados de trazer o mal ao mundo. O destino destes homens é a morte, a fim de purificar o mundo. Antes, porém, as mais terríveis torturas, para que seus pecados sejam pagos. Muito bom.

Quer uma Torrada? (Débora Moraes): conto curtinho e sanguinário. Não dá para falar muito senão estraga. Uma espécie de “dia de fúria” com final macabro.

Flor de Lis (Suzy M. Hekamiah): conto com ares de fantasia, mostrando a história de um assassino conhecido como Flor de Lis. Uma garota é atraída, devido à sua curiosidade, para o lar do assassino, e lá descobre a beleza por trás de seus crimes.

Memórias (Alícia Azevedo): uma menina presencia o assassinato dos pais e se transforma numa assassina cruel e impiedosa, deixando sua marca em várias partes do mundo. Muito bem escrita, a história, passada entre a metade do século XIX e o começo do século XX, é cheia de referências a personagens reais e fictícios. A autora ainda brinca com as épocas em que tudo acontece de maneira muito inteligente. Ótimo conto.

Amor Masoquista (Laris Neal): conto forte, daqueles cuja intenção é quebrar barreiras. O conto tem várias pequenas surpresas, então eu prefiro não falar muito. Quebrando a linha do livro, não é um conto violento, mas não deixa de ser chocante.

Bom, fica aí a dica. Espero que curtam a leitura. Insanas…Elas Matam é fruto de um trabalho realmente muito bom que a Estronho tem feito. Agora fiquei com vontade de ler Cursed City, outro livro que eles lançaram recentemente ambientado no Velho Oeste.

15 comentários em “Insanas… elas matam!

  1. Obrigado pela resenha, Daniel. Muito bem escrita por sinal. Só queria deixar duas observações. A proposta do livro não era de trazer serial killers e o terror psicológico também foi incentivado durante a apresentação da ideia da antologia. Por isso, acredito que todos os contos estejam de acordo com o que foi proposto.

    Abraços horripilantes!

    1. Valeu pelo esclarecimento… minha primeira impressão tinha sido mesmo que estava fora, mas depois eu reconsiderei. Afinal, terror psicológico também conta. E muito….rs… abraço!

  2. Muito boa a resenha.
    Obrigada pelo “Assustador” também.

    E acho que vai gostar de Cursed.

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