Constelações: Crux

O céu de São Paulo, que já não é grande coisa, tem se mostrado pior que de costume nos últimos dias. Tenho a impressão de que uma nebulosidade constante resolveu se instalar por aqui e não há o que a faça ir embora.

Já que é assim, resolvi usar uma constelação que é bem conhecida de todos para fazer um gancho e apresentar algumas novidades. A constelação é Crux, a Cruz. Sim, aquela mesma a que nós costumamos nos referir como “Cruzeiro do Sul”.

O Cruzeiro do Sul é bem fácil de ser visto no céu. Tão fácil que eu acho que nem preciso explicar como se faz para encontrá-lo. Acredite em mim, se você por acaso não consegue reconhecer o Cruzeiro no céu, certamente um vizinho, amigo ou parente consegue. Então, se estiver na dúvida, pergunte a alguém…:D.

O Cruzeiro do Sul está bem fácil de ser visto. Por esses dias, às 20:00, vocês podem avistá-lo se voltarem os olhos para a direção Sul, mais ou menos a meia altura no céu. Suas estrelas mais brilhantes ficam visíveis em São Paulo até perto de duas da manhã.

Em todo caso, vale relembrar alguns pontos. Logo no primeiro post dessa série, quando apresentei Corvus, eu fiz algumas recomendações para todo mundo “acertar” qual o Cruzeiro do Sul. Alguém lembra?

Eu lembro. E vou repetir aqui.

  1. o Cruzeiro do Sul forma uma cruz
  2. observando a partir da ponta de baixo da cruz, e fazendo uma volta em sentido horário pelas 4 estrelas que formam a cruz, vemos as estrelas em brilho descrescente
  3. alinhadas com a estrela da ponta de cima (se imaginarmos que estamos vendo a cruz na posição “de pé”, à esquerda da cruz), formando uma linha reta com essa estrela da ponta, veremos duas estrelas bem brilhantes. Não vou falar sobre elas agora, mas são bem fáceis de serem observadas.
  4. só o Cruzeiro do Sul tem aquela quinta estrela “intrometida” quase no centro da cruz.

A imagem acima mostra bem o que eu escrevi sobre as estrelas descrescerem em brilho quando percorremos a cruz no sentido horário a partir da base. A “intrometida” também está bem visível nessa imagem. A estrela mais brilhante (ponta de baixo da cruz) é chamada Acrux e é, na verdade, um sistema múltiplo. Mesmo um telescópio modesto nos mostra que o que vemos como um único pontinho no céu é, de fato, uma estrela binária, isto é, duas estrelas presas gravitacionalmente uma à outra (Alpha-1 e Alpha-2). Essas duas estrelas orbitam entre si a uma distância média de 400 vezes a distância Sol-Terra, completando uma volta completa a cada 1300 anos. Usando técnicas ainda mais precisas, desobriu-se que Alpha-1 é, por sua vez, um outro sistema binário. Só que este sistema é tão próximo que não se consegue separar as duas estrelas.  Elas giram ao redor uma da outra em apenas 76 dias, numa distância próxima à da Terra ao Sol.

Um dos objetos mais interessantes no Cruzeiro é NGC4755, um aglomerado de estrelas conhecido como “Caixa de Joias”. Esse aglomerado aparece na imagem acima como um borrãozinho claro ao lado da segunda estrela mais brilhante de Crux. Vejam a imagem abaixo e confiram o motivo desse nome sugestivo.

Caixa de Joias

A “Caixa de Joias” é um aglomerado aberto. Esses aglomerados são relativamente jovens, com algumas centenas a poucos milhares de estrelas, todas ligadas gravitacionalmente. Em geral, são estrelas bem brilhantes e massivas. Os aglomerados abertos são normalmente localizados na região do disco galáctico. Esse, em particular, é bem fácil de ser observado com um binóculo pequeno (o meu é um Pentax 10×50)

Um outro tipo de aglomerado é o “globular”. São aglomerados maiores, muito mais velhos, e com muito mais estrelas. Um aglomerado globular pode conter até um milhão de estrelas. Nesse caso, as estrelas estão bem próximas umas das outras e numa formação bem compacta, tendo realmente uma aparência esférica, daí o nome globular. Em geral, suas estrelas ja estão num estágio evolutivo avançado. Os aglomerados globulares normalmente estão localizados no halo galáctico.

O aglomerado M13, cuja imagem aparece abaixo é um bom exemplo.

M13Notem como as estrelas formam um grupo bem “apertado” e esférico.

Um estudo aprofundado das características dos aglomerados, tanto abertos quanto globulares, é uma excelente ferramenta para aperfeiçoar os modelos de evolução estelar, já as estrelas de cada aglomerado nasceram na mesma época e a partir do mesmo material.

Mas agora, vamos fazer um teste.

Vocês acham mesmo que conseguem encontrar o Cruzeiro do Sul? Vou apresentar duas imagens aí embaixo para vocês darem uma conferida, ok? Se não conseguirem, logo depois eu vou colocar uma imagem mais fácil.

Bom, agora vão as imagens facilitadas. Notem na segunda imagem, as estrelas brilhantes apontando para a estrela de cima da cruz. São Alfa e Beta Centaurii, as estrelas mais brilhantes da constelação do Centaurus, que vamos discutir mais para frente. Lembram que eu falei dessas estrelas lá em cima para facilitar a localização do Cruzeiro?

Bom, é isso aí.

Até a próxima!

(Todas as imagens utilizadas neste artigo foram obtidas no site APOD.)

16 comentários em “Constelações: Crux

  1. Cara, adorei a aula. Que tal darmos um passeio com meu disco voador e conhecer tudo isso in loco? 🙂

  2. dúvida,a verdade quantas estrelas formam o cruzeiro do sul? pq uns dizem 5 outros dizem 7!!! qero saber por favor espero respostas.

    1. Rafael, o Cruzeiro do Sul é simbolizado pelas cinco estrelas mais brilhantes da constelação: as quatro que formam a cruz, e a Intrometida que fica meio deslocada em relação ao centro. Abraço!

  3. obrigado. me tire outra dúvida se assim possível,as estrelas são formadas de hélio certo? pôs sé ….o hélio se desfaz certo? então me diz,por quer elas toda as noites vejo as costelações na msma ordem?por exemplo se elas explodem e o hélio é leve então qnto tempo demora para explodir?fico no aguardo.

    1. Rafael, as estrelas são formadas basicamente por hidrogênio. A queima do hidrogênio (que não necessariamente leva à explosão da estrela) dura bilhões de anos numa estrela do tipo do Sol. Por isso que você sempre vê as constelações lá. Porque nós nascemos, vivemos e morremos, num período curtíssimo da vida de cada estrela.

  4. ta.então ainda não teve um ser humano ao olhos de uma estrela que vivenciar uma explosão de uma?

    1. Elas possuem hélio sim, que é gerado na queima do hidrogênio. Mas a fase mais longa de vida da estrela é alimentada pelo hidrogênio. Muitas explosões já foram registradas, mas lembre-se que somente na nossa galáxia são mais de 200 bilhões de estrelas. Se quiser, anota todas as suas dúvidas e me passa um email, aí tento esclarecer tudo pra vc.

  5. amei essa pesquisa, nesse exato momento eu vi uma imagem no ceu tipo uma cruz e realmente fiquei chocada entao vim aqui pesquisar

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